domingo, 7 de setembro de 2008

"O Poço das Sombras" de Juliet Marillier

Resumo:
"O Poço das Sombras" é o terceiro livro da saga "As Crónicas de Bridei", que é narrado no reino dos Pictos (Escócia) - Fortriu. Inspirado numa poderosa figura histórica, contemporânea do célebre Rei Artur, Bridei é uma imagem de liderança e de carisma.
Esta é uma criativa e intrigante história merecedora de aplausos por imensos fãs já conquistados.
"Em missão secreta na Irlanda por ordem do Rei Bridei de Fortriu, Faolan tem também de dar a notícia da morte de um bravo guerreiro. Porém, o principal assassino e espião de Bridei tem de enfrentar os demónios do passado sombrio da sua família com resultados inesperados. Quando segue o rasto de um poderoso clérigo cristão que pode ser uma ameaça para a estabilidade do reino pagão de Bridei, Faolan torna-se responsável por uma criança, um cão e Eile, uma jovem perturbada e desconfiada. Para Eile, a viagem a Fortriu é uma confrontação. Acostumada a uma vida de privações e labuta, a jovem vê-se perante um mundo estranho, cheio de lições novas, onde o principal desafio é aprender a confiar nas pessoas. Na corte de Bridei, em Monte Branco, notícias perturbadoras vindas do reino vizinho de Circinn, levam o Rei a convocar a conselho os seus chefes-de-guerra. Após o desaparecimento do principal conselheiro de Bridei e a morte trágica de uma jovem criada, a ameaça provocada pela influência cada vez Maior da Cristandade parece ser o menor dos perigos..."
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Biografia da escritora:
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Comentário:
Acabei mesmo agora de ler a trilogia. Estou maravilhada, completamente! Nem tenho palavras para descrever a grandiosidade deste livro.
Achei-o mais sereno do que o anterior, mas mais maravilhoso do que nunca. Fiquei feliz com o final que Juliet Marillier reservou para Faolan (personagem principal nos 2 últimos livros). Juliet deu-lhe a capacidade de amar novamente... a personagem conseguiu voltar a ser humana sem precisar que a lembrassem.
Gostei imenso do livro! Recomendo esta trilogia porque realmente é fantástica! Nunca tinha lido livros de Juliet Marillier, mas realmente não me desiludiu. No entanto, não posso deixar de comentar a triste tradução feita ao livro. Por exemplo: enquanto nos outros dois livros anteriores a prisão onde Faolan esteve se chamava "Breakstone", neste chamou-se "Pedra que Quebra". Na minha opinião, traduzirem-se nomes de locais não tem lógica nenhuma. E traduzirem-se alguns e deixando os restantes... ainda menos lógica tem. Os dois pássaros (sobreviventes) que acompanhavam Drustan eram uma gralha e uma carriça, enquanto neste passou a ser um corvo e outro que agora não me recordo. Reparei que os tradutores deste livro foram outras pessoas, no entanto, acho uma negligência grave não se terem preocupado com as obras anteriores... Já para não falar dos erros ortográficos que acompanharam os três livros..
É com muita pena minha que me "despeço" desta trilogia fantástica. Mas já ouvi falar num 4.º livro, embora ainda não esteja confirmado. Espero bem que a autora dê continuação à história! Era óptimo! ;)
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Passagem:
"Broichan virou as costas ao vale e começou a subir ao abrigo da floresta. Com ele movia-se uma figura encapuzada, de contornos pouco nítidos. Caminha, dizia a voz, e a cada passo que dás, lembra-te. Lembra-te do teu orgulho, lembra-te da tua ambição, lembra-te da tua crueldade.— Tudo o que fiz — disse Broichan — foi por amor d' Aquela que Brilha e do Guardião da Chama. Fui sempre obediente. Toda a minha vida segui o caminho dos deuses e sempre respeitei as suas leis. Procura no teu coração, murmurou a voz. Examina o passado. Vira o olhar perspicaz da erudição para os teus próprios actos. Aplica a ti próprio o que pregas: o saber não ocupa lugar. Sim, até no reconhecimento de que falhaste em relação à tua própria filha. Como podes tu professar a obediência à vontade dos deuses quando és incapaz de reconhecer o seu dom mais precioso?"

***

"Acabar tudo naquele momento era fazer troça dos homens que tinham saído de lá, tão poucos como os dias secos do Outono. O prisioneiro tocou na estrela que tinha tatuada por trás da orelha. Um sobrevivente. Se o era, não o merecia. Mais valia Echen ter acabado com ele naquela noite. Pelo menos não teria tomado conhecimento dos danos que tinha causado.
Ana: uma razão para continuar, uma razão para não desistir. Faolan pensou lembrar-se, vagamente, de lhe ter feito uma promessa. Era-lhe difícil imaginar-lhe o rosto; tudo o que via era uma neblina dourada e dois penetrantes olhos cinzentos. Como não gostava do seu olhar, Faolan pô-los de lado, tirou a camisa e começou a rasgá-la, servindo-se dos dentes. Em seguida calculou a altura a que estavam as grades da janela. Necessitaria de toda a sua força de vontade porque não estavam muito afastadas do chão, mas era capaz. Porém, teria de esperar. Mais tarde, depois de Seamus lhe trazer o jantar. Tinha de ter a certeza de que não seria interrompido. Não precisou de muito tempo para atar e torcer os bocados da camisa, conseguindo uma espécie de corda. Uma voz murmurava-lhe na cabeça, uma voz que não conseguia silenciar: a voz de Deord. Faolan via os ombros largos e a cabeça calva do guerreiro na sua cela, de pernas afastadas na penumbra. Maldito lugar. Não me abandones
Vive-a, dizia Deord. Faolan pestanejou e o fantasma desapareceu, mas a voz continuou: Cumpre a tua promessa. Vive a vida que eu te consegui. Vive-a por nós, pelos que não puderam continuar. Faolan atou a corda em redor das grades e testou-lhe a força, pendurando-se nela. Parecia firme. Talvez, no fim de contas, o fizesse naquele mesmo momento. Se esperasse, talvez acabasse por desistir. Talvez escutasse e se deixasse convencer. Seamus demoraria algum tempo até regressar. Não levava muito tempo a morrer, se estivesse mesmo decidido. Faolan fez um nó corredio e pôs a corda ao pescoço. Era melhor não pensar. Era melhor continuar...
— Faolan! — A voz vinha do exterior, tão estridente como o grito de uma gaivota. Era Eile. — Faolan, onde estás? O teu pai está aqui! Vimos buscar-te. Deuses.
O prisioneiro levou as mãos ao pescoço, encheu os pulmões e gritou:— Aqui, Eile. Estou aqui!— Aguenta-te... — A voz da moça calou-se subitamente. Faolan pensou ouvir outras vozes, apesar de não conseguir distinguir as palavras. Seamus, talvez, e mais alguns homens. O seu corpo começou a tremer convulsivamente. Lenta, cuidadosamente, como um homem habituado a exercer um controlo total sobre os seus pensamentos e acções, Faolan afrouxou o aperto, desfez o nó corredio, desapertou a suposta corda da grade da janela e, deixando-se cair no chão, começou a desfazê-la. Nas suas mãos, o instrumento de morte transformou-se num monte de trapos e o prisioneiro serviu-se deles para enxugar as lágrimas."

8 comentários:

Célia disse...

Acho que é quase impossível não gostar dos livros da Juliet... As histórias dela são maravilhosas! A tradução deste livro é realmente má... E não é só de um livro para outro, é mesmo dentro do próprio livro! Recordo-me, por exemplo, de numa página se chamar Colina Branca a um local e na página seguinte já ser Monte Branco... Muito mau!

Agora tens de ler a trilogia Sevenwaters :)

a disse...

Canochinha, sim, tenho de pensar seriamente em comprar a trilogia Sevenwaters, mas neste momento tenho muitos livros na estante à espera de serem desfolhados. :)
Também já estou a ler "O Beijo do Highlander". Um pouco cómico ao iníco, hein? ;)

Sandra Dias disse...

Ai, ai... tenho mesmo de experimentar as obras desta autora!
Bjinhos
Sandra
http://vidasdesfolhadas.blogspot.com/

a disse...

Miar à chuva, aconselho mesmo, pelo menos "As Crónicas de Bridei"-trilogia, q foram os unicos livros que li da autora. ;)

flicka disse...

Estou mesmo a ver que tenho começar a ler o tal livro dessa autora que já te falei, com brevidade!!! ;o)

a disse...

Flicka, aconselho mesmooo!

Pedro disse...

Eu tenho de ler esta trilogia, mas tu tens de ler obrigatoriamente a trilogia de Sevenwaters!

a disse...

Pedro, fica prometido ;), mas como tenho imensos livros na estante a fazer fila de espera, não será para já..